A mistura de herbicidas em tanque é uma prática comum na lavoura, principalmente por apresentar vantagens ao produtor. A mais significativa delas é a redução de custos, gerada pela economia de tempo, mão de obra, água e óleo diesel.
Além disso, a mistura proporciona agilidade nas operações, facilidade de manejo da cultura, aumento do espectro de controle, atraso na evolução da resistência e diminuição da compactação do solo.
Embora utilizada há bastante tempo no Brasil, a regulamentação veio apenas em 2018, pela Instrução Normativa Nº40.
A normativa prevê a indicação no receituário agronômico das informações relativas à mistura, assim como sobre possíveis incompatibilidades e advertências específicas para a aplicação. A IN alerta ainda para a necessidade da correta interpretação das recomendações, aplicação das boas práticas e do conhecimento científico para fazer a mistura.
Sendo assim, para recomendar a mistura é necessário que o profissional técnico tenha conhecimentos sobre os efeitos antagônicos dos produtos e as suas características, para evitar incompatibilidade física.
Junto destes efeitos, a mistura de herbicidas pode resultar em um sinergismo, potencializando a ação de um ou mais produtos, o que pode ser prejudicial para as plantas cultivadas.
Qual a mistura de herbicidas ideal?
A mistura de herbicida ideal seria aquela onde a combinação promove o aumento da atividade sobre as plantas daninhas e reduz a toxicidade para as culturas de interesse econômico, mas infelizmente nem sempre é o que acontece.
O comportamento de cada herbicida é normalmente afetado pela presença de outros produtos, assim como adjuvantes e também pela qualidade da água. Além disso, a atividade da mistura depende da espécie alvo, estágio de crescimento e das interações ambientais.
Erros mais frequentes na mistura de herbicidas
Erros de incompatibilidade na mistura são os mais frequentes. Para evitar que isso aconteça, existem tipos de formulações que não devem ser associadas, como por exemplo, a combinação entre pó-molhável e concentrado emulsionável, que resultam em alta sedimentação e podem obstruir filtros.
O pH da calda é outro fator importante na pulverização. Geralmente, produtos apresentam menor eficácia quando são alcalinos e podem levar à perda do efeito sinérgico da mistura.
Para evitar esse tipo de incompatibilidade são utilizados adjuvantes, que auxiliam na correção de pH. Entretanto, não existe um pH ideal, pois depende de cada produto, e por isso é necessário consultar as recomendações da bula.
Todavia, é necessário ter conhecimento técnico para realizar a mistura em tanque de maneira correta.
A nova legislação foi proposta principalmente para evitar esses tipos de erros no momento da mistura, pois ela permite que o engenheiro agrônomo, por meio de todo seu conhecimento técnico-científico, consiga exercer seu papel e auxiliar o produtor a escolher a opção correta.
Tipos de interações que podem ocorrer
Existem três tipos principais de interações que podem ocorrer quando falamos de mistura de herbicidas: efeito aditivo, sinergismo e antagonismo.
Todas essas interações ocorrem de formas diferentes, tornando a gestão das misturas uma consideração crucial na agricultura. Confira mais detalhes abaixo:
1. Efeito aditivo: Quando aplicado separadamente cada herbicida tem um efeito, quando em mistura o resultado será a adição desses efeitos. Ou seja, não haverá nenhuma interferência na atividade dos herbicidas.
2. Sinergismo: A atividade da mistura é superior à soma dos efeitos dos herbicidas isolados.
3. Antagonismo: A atividade da mistura é menor do que a soma do controle obtido quando os dois herbicidas são aplicados separadamente. Ou seja, a aplicação de um compromete a eficiência de outro.
Embora misturas sinérgicas sejam desejadas, o aumento da atividade pode causar perdas à cultura, principalmente a partir de injúrias causadas pela fitotoxicidade.
As interações entre os herbicidas na mistura podem ocorrer antes, durante ou depois da aplicação.
Mecanismos de interação entre os herbicidas
Os mecanismos que regulam as interações entre herbicidas são cruciais para entender a complexidade das misturas utilizadas na agricultura. Essas interações podem ser categorizadas em diferentes tipos, cada um com implicações específicas, sendo elas:
1. Bioquímicos: Um herbicida interfere na absorção, translocação ou metabolismo do outro, reduzindo a concentração que chega até o sítio de ação.
2. Fisiológicos: Os herbicidas combinados na mistura possuem efeitos fisiológicos complementares ou opostos. Um exemplo é o sinergismo entre inibidores da síntese de carotenóides e do fotossistema II. A ausência de carotenóides para dissipar o excesso de energia, gerado pela interrupção do fluxo de elétrons, potencializa o controle.
3. Competitivos: Um herbicida da mistura afeta a ligação do outro ao sítio de ação.
4. Químicos: Reações químicas na mistura levam a formação de complexos biologicamente inativos. Esse tipo de interação normalmente ocorre na calda ou na superfície de aplicação, com formação de géis, precipitados, e com frequência ocorrem entupimentos nesse caso.
Ainda é possível que mais de uma interação ocorra ao mesmo tempo!
Qual a eficiência dos herbicidas?
De modo geral, herbicidas do mesmo grupo químico, mecanismo de ação e rotas similares tendem à misturas sinérgicas. Por outro lado, quando essas características são muito diferentes, a mistura tende ao antagonismo.
Herbicidas absorvidos e translocados pela mesma rota tendem a competir, reduzindo a eficiência da mistura.
O ideal seria misturar um herbicida com absorção via foliar e outro absorvido pelas raízes, ou ainda um altamente móvel com outro de baixa mobilidade. Mas ainda assim, é necessária muita atenção para a velocidade de ação, uma vez que o herbicida causou lesão nos tecidos, pode reduzir drasticamente o movimento de outra molécula presente na mistura.
Uma prática comum é a mistura de graminicidas com latifolicidas, com objetivo de ampliar o espectro de controle. No entanto, frequentemente resulta em antagonismo, com redução no controle de gramíneas.
A interação negativa costuma ser atribuída a redução na absorção e translocação do graminicida, mas a adição de adjuvantes e aditivos a calda pode contribuir para amenizar o efeito do antagonismo.