Plantas daninhas, invasoras, infestantes, espontâneas e várias outras denominações se referem às espécies de plantas que crescem onde não são desejadas, impedindo o desenvolvimento normal das espécies de interesse econômico.
Além da facilidade de dispersão e proliferação, sua principal característica está na rusticidade para adaptação a diferentes ambientes.
Elas podem prejudicar o desenvolvimento e produtividade de culturas agrícolas como soja, milho, trigo e várias outras, causando prejuízos ao produtor, devido principalmente à competição por água, luz e nutrientes dentro do mesmo espaço de cultivo.
Fonte da resistência das plantas daninhas
Manejo inadequado é a principal causa do aumento de resistência de plantas daninhas. A adoção do controle químico, por meio do uso de herbicidas, representa a principal forma de controle e manejo de plantas daninhas.
No Brasil, de todos os produtos fitossanitários utilizados nas lavouras agrícolas, 56% em média são herbicidas, número superior à média mundial que é de 48%.
Herbicidas são compostos químicos tóxicos que inibem ou interrompem o crescimento e desenvolvimento normal da planta, atuando em processos biológicos através do bloqueio de vias que sintetizam compostos essenciais às plantas.
A toxicidade de um herbicida depende de seu mecanismo e modo de ação. O mecanismo de ação refere-se ao efeito imediato do herbicida na planta e o modo de ação são os resultados desta interação, que dependem da absorção, translocação e metabolismo do composto pelo vegetal e da resposta fisiológica da planta.
Além da divisão em grupos de acordo com o seu modo de ação, os herbicidas são classificados quanto à translocação na planta, em sistêmicos ou de contato. Os herbicidas sistêmicos são translocados nas plantas enquanto os não-sistêmicos ou de contato não são translocados, apresentando seu efeito tóxico no local da aplicação.
O surgimento de plantas daninhas resistentes a herbicidas sempre estará associado a mudanças genéticas na população em função da seleção ocasionada pela aplicação do herbicida.
Para se tornar resistente, a planta precisa transmitir hereditariamente a resistência e sobreviver à dose do produto, sem sofrer qualquer alteração. Essa resistência ainda permite que algumas espécies continuem a se reproduzir, aumentando ainda mais sua população.
A variabilidade genética está presente nas populações infestantes e caso haja a aplicação continuada de um produto ou de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, as plantas resistentes irão sobreviver aumentando, nos anos subsequentes, a frequência destas na população.
Veja como ocorre a resistência no campo:
Figura 1. Multiplicação de plantas resistentes à herbicidas ao longo das safras.
Desde 2005, com a aprovação da introdução da soja transgênica no Brasil, o controle das daninhas, principalmente, na cultura da soja, se tornou quase que exclusivamente baseado em duas a três aplicações de glifosato. Entretanto, esse mesmo mecanismo de ação, repetido em diversas safras seguidas, estimulou o avanço da resistência.
De acordo com a Embrapa Soja, atualmente 90% da área cultivada no Brasil é resistente ao glifosato. Os maiores problemas com as ervas daninhas estão no sul do país. Estima-se que, só na região, aproximadamente 6 milhões de hectares sofrem com a resistência da buva.
Além de afetar a produção, gerando um baixo rendimento, há também uma perda econômica, já que os custos de produção com controle de plantas daninhas utilizando outros herbicidas aumentam.
É importante lembrar que a resistência de plantas daninhas não é novidade para a agricultura brasileira. Na década de 90, os produtores já enfrentavam problemas associados à resistência com uso de herbicidas no manejo de plantas daninhas.
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Detecção precoce da resistência em nível de propriedade
Normalmente os agricultores constatam a presença de plantas daninhas resistentes em suas lavouras apenas quando, aproximadamente, 30% da comunidade infestante da espécie na área é formada por biótipos resistentes.
Esse fato leva a consequências drásticas, permitindo o aumento no banco de sementes no solo, o que poderá implicar problemas mais sérios, devido à prolificidade da espécie daninha, à longevidade e à dormência de suas sementes. Como resultado, haverá maiores dificuldades para solucionar o problema.
A detecção precoce da resistência através de monitoramento constante das lavouras permite colocar a área suspeita em quarentena e propicia a erradicação do biótipo selecionado.
Em lavouras com áreas relativamente grandes e com elevado nível de tecnologia podem-se realizar monitoramentos aéreos, observando “manchas” nas lavouras, as quais caracterizam plantas daninhas não controladas nas áreas, com posterior análise para detecção da resistência.
Nas propriedades menores, pode-se acompanhar a evolução de plantas daninhas resistentes através de observação e detecção visual, eliminando as plantas que sobrarem nas áreas evitando que produzam sementes.
Quanto mais precoce a constatação de plantas resistentes na área, maior a probabilidade de poder empregar medidas preventivas à dispersão de sementes na lavoura.
A questão mais importante sobre resistência de plantas daninhas é a manutenção de uma diversidade de táticas de manejo, sendo fundamental para sustentar o controle efetivo a partir de herbicidas.
Dependência excessiva de um único herbicida ou um grupo de herbicidas sem a utilização concomitante de outras opções de controle tem favorecido a evolução de populações resistentes.
A compreensão do ciclo de crescimento e desenvolvimento de plantas invasoras permite a gestão estratégica de controle, possibilitando a utilização de técnicas mecânicas, culturais, métodos biológicos e gestão eficiente de herbicidas. Estas são táticas indispensáveis para desenvolver e manter práticas de manejo efetivo.